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Alunas de Arte da Escola Estadual 11 de Agosto, Umarizal/RN (Foto:Arquivo pessoa/Professora Rose Lotte) |
O Escambo Popular Livre de Rua,
como foi descrito por mim e a Michely no último texto (clique aqui para ler),
escancara os problemas que muitos fazem questão de fechar os olhos. Na edição
deste ano tivemos o privilégio de assistirmos à intervenção Quebra de Silêncio
feita pelo Coletivo Invisível de Teatro da cidade de Umarizal/RN que denuncia o
óbvio de uma sociedade patriarcal e opressora.
Ao assistir Quebra de Silêncio é
possível sentir a dor da agressão, do assédio e do estupro. A dor que não é só
minha ou sua, mas de todas nós MULHERES. Quebra de Silêncio é uma peça forte
como tem que ser, por que não da para falar da dor feminina de maneira amena.
O Coletivo Invisível de Teatro
Quebra o silêncio da dor de todas nós mulheres que somos assediadas com
“cantadas” e “elogios”. Que somos dopadas e violentadas por nossos parceiros.
Que passamos a vida inteira sendo as responsáveis pelas atividades domésticas.
Que não podemos sair com nosso short curto ou com nosso batom vermelho sem
sermos julgadas de putas. Que a cada 15 minutos somos agredidas e temos que
ouvir “gosta de apanhar“. Que a cada uma hora somos estupradas e temos que
ouvir “tava fazendo o que alí, naquela hora?”...
O Coletivo Invisível quebra muito
mais que o silêncio, ele quebra a insensibilidade de uma sociedade que se nega
a ver o machismo e, que se nega ser machista. Que acha que muitas das questões
da luta feminina são mi mi mi. Que
faz piada com o feminino. Que ver graça no machismo e que acha que nós mulheres
estamos querendo coisas de mais.
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Quebra de Silêncio, Coletivo Invisível de Teatro (Foto: Arquivo pessoal/Professora Rose Lotte) |
E o mais interessante do Coletivo
Invisível é que ele é uma ação que surgiu dentro de uma sala de aula de uma
escola pública. Você consegue imaginar isso: Um monte de meninas e meninos
discutindo igualdade de gênero, machismo e empoderamento feminino ainda na
escola?
Eu fico extremamente feliz em
saber que em algum lugar desse meu RN tem um monte de meninas sendo empoderadas
tão jovens, sabendo que o lugar delas é onde elas quiserem, sabendo que a culpa
nunca é da vitima, sabendo que não existe essa coisa de “isso não é coisa de
menina”. Tendo noção dos seus direitos e principalmente de como lutar por ela e
por todas as outras MULHERES. Fico feliz também em vê meninos podendo ter a
oportunidade de desconstruir seus conceitos e formar novas opiniões baseado na
igualdade de gênero.
O Coletivo Invisível de Teatro
que tem como finalidade abordar os problemas sociais por meio da arte e fazer
dela um caminho para a conscientização, é uma iniciativa da disciplina de Artes
da Escola Estadual 11 de agosto e surgiu durante um debate em sala, quando os
alunos estavam debatendo sobre a violência contra a mulher e surgiu a discussão
sobre o estupro coletivo que aconteceu em maio de 2016, quando uma menina de 16
anos foi estuprada por 30 homens no Rio de Janeiro.
Inicialmente os alunos sugeriram
que fosse feito um protesto contra este estupro, mas a professora Rose Lotte
que é licenciada em teatro, achou melhor que
ao invés do protesto que só iria durar um dia, fizessem uma peça e assim
conseguir chegar no sensível das pessoas e atingir um número maior de público.
O Coletivo Invisível de Teatro também conta com a colaboração de ex-alunos e
não é a única ação de teatro dentro da Escola 11 de agosto.
O nome Coletivo Invisível foi
escolhido por que, na época, a maioria dos alunos que faziam parte do Coletivo eram moradores na zona rural e se sentiam meio que “invisíveis” dentro da escola. O que mudou completamente após o Coletivo. A
professora Rose relatou que após o primeiro dia de espetáculo na escola, os
alunos do Coletivo comentaram que foi a primeira vez que eles realmente se
sentiram vistos.
É muito gratificante vê o
feminismo sendo pauta de escola, saindo daquele tradicional 8 de março em que
no máximo aprende-se o porquê surgiu o dia internacional da mulher. E mais
lindo ainda vê isso acontecer numa aula de Artes – Por que na minha realidade
escolar o que me recordo das aulas de Artes (quando tinha) são as pinturas dos
símbolos da semana santa e do natal. Então, presenciar tudo isso me causa uma
felicidade extrema e uma nostalgia de querer ter estudado nessa sala.
E mais gratificante ainda é ver
que essa ação não se limita aos muros da escola. Ela vai para comunidade, leva
reflexão e empoderamento para outras mulheres. Para mulheres que, talvez,
tiveram que abandonar a escola por que a sociedade machista impôs que elas
tinham que cuidar da casa e dos filhos.
O mundo não é fácil para nós
mulheres. Mas são iniciativas como estas que faz a gente crê num mundo melhor,
se não pra gente, quem sabe para nossas descendestes. Que tenham mais
professoras Roses. Mais alunos 11 de agostos. Mais Coletivos Invisíveis. Mais
quebras de Silêncios... Não só de gênero, mas de todas as classes minoritárias.
Que o COLETIVO INVISÍVEL DE
TEATRO possa quebrar o silêncio e denunciar o óbvio para o máximo de pessoas
(homens e mulheres) possíveis. Que cada vez mais as escolas trabalhem a luta
feminista e o empoderamento de suas alunas.
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Alunos 11 de Agosto num belo #ForaTemer (Foto: Arquivo pessoal/ Professora Rose Lotte) |
A gente sabe o quando as
estruturas das escolas públicas são precárias, principalmente no interior do
nordeste, e o quanto isso influencia na formação do aluno. E são professoras
como a Rose Lotte em Umarizal/RN, Midian Izlia em Janduís/RN, Mayara Freire em Brasília/DF, Josineide
Kaline em Natal/RN e tantos outros professores espalhados por esse Brasil que
fazem a diferença e transformam a realidade de milhares de alunos da rede
pública.
Deixo aqui meu muito obrigada,
como mulher, ao Coletivo Invisível por levantar a bandeira das causas
feministas. E parabenizar à todos que
fazem e apoiam o Coletivo Invisível de Teatro. Aquelas palmas em pé que duraram
mais de um minuto, após apresentação da peça no 46° Escambo Popular Livre de
Rua, que ocorreu em Janduís no mês de Abril, não foram atoa. Foi lindo vê toda
a aquela discussão que surgiu depois da peça.
Por mais professoras como a Rose
Lotte e por mais alunos como Raerica Soares, Mércia Moura, Carlo Albuquerque,
Douglas Bezerra, Brenner Azevêdo, Vinicius Duarte e Bruno Lucielbe.
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